“A saúde mental dos médicos e acadêmicos de medicina no Brasil” foi o tema do fórum realizado na noite de ontem, 20, no  Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG). O debate integrou a programação do evento Setembro Amarelo, promovido por entidades médicas mineiras.  O mês é dedicado à prevenção do suicídio.

Em sua apresentação, o psiquiatra Antônio Alvim Júnior, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamou a atenção para  o crescimento do adoecimento mental entre estudantes de medicina nos últimos anos. Ele destacou que a distância de casa, da família e dos amigos, associada à responsabilidade do autocuidado – um peso para a maioria, que entra na faculdade muito jovem – e às dificuldades naturais do curso de medicina são alguns dos fatores de adoecimento desses jovens adultos. Eles  acabam por desenvolver sintomas de estresse e ansiedade. As consequências, conforme o psiquiatra, são muitas vezes o aumento do uso de substâncias químicas, álcool e outras drogas, até como forma de se automedicar.

O psiquiatra explica que os  próprios alunos precisam reconhecer, em si e nos colegas, que algo não vai bem do ponto de vista da saúde mental. “E uma vez reconhecido o problema, buscar ajuda, tratamento. Como diz o slogan da campanha Setembro Amarelo, agir salva vidas”, assinalou.


Identificar e Cuidar

A estudante Maria Clara Catoni, 23 anos, aluna do 7º período de medicina da Pontifícia Católica de Minas Gerais (PUC-MG), falou sobre as dificuldades que os estudantes de medicina estão enfrentando, especialmente nesse período da pandemia. “Já tem mais de um ano e meio que estamos estudando a distância, o que está gerando muita ansiedade e depressão entre os alunos”, contou Maria Clara. Segundo ela, o curso, por si só, já é bastante exigente, o que demandaria, por parte das faculdades, um apoio maior aos alunos. “Se a gente tivesse uma rede de apoio seria bem mais fácil”, observou a estudante.

O psiquiatra e conselheiro do CRM-MG, Paulo Repsold, considera que as faculdades de medicina precisam se adaptar à nova realidade, tendo em conta  a situação que o País vive, inclusive devido à pandemia.  Ele ressalta a necessidade da criação de mecanismos capazes de identificar com rapidez eventuais transtornos mentais nos estudantes de medicina, e encaminhamento para o devido tratamento.

Frederico Garcia, psiquiatra, professor de saúde mental da Faculdade de Medicina da UFMG, ressaltou que discutir o problema dos estudantes e  dos médicos  é muito importante, mas que também é preciso  passar para a ação. “É fundamental fazer a identificação precoce dos problemas de saúde mental e a orientação para o tratamento é o ponto mais importante. O que vale para o acadêmico e médicos – inclusive residentes. O cuidado é o grande desafio que a gente tem pela frente”, acrescentou.

Superar o preconceito

Com participação online, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, apresentou um conjunto de dados estatísticos  sobre os transtornos mentais entre os médicos. “A saúde mental dos médicos não está boa”, resumiu o psiquiatra, ressaltando que os profissionais da medicina não podem ter preconceito de falar com outros médicos sobre seus problemas e precisam pedir ajuda.

Vencer o preconceito é o principal desafio que as entidades que representam os médicos têm pela frente quando o assunto é transtorno mental na categoria, afirma a presidente do CRM-MG, Cibele Alves de Carvalho. Para ela, para superar esse preconceito, é necessário  despertar no aluno a consciência de que ele precisa pedir ajuda se estiver enfrentando momentos de grande ansiedade e depressão.

O fórum “A Saúde Mental dos Médicos e dos Estudantes de Medicina” integra a programação do Setembro Amarelo promovida pelo CRM-MG, Associação Médica (AMMG), Sindicato dos Médicos (Sinmed-MG), ABP e Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG).

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