O CRM-MG On-Line deste mês abre as atividades do Mês do Médico, organizado pelo Conselho Regional de Medicina. O tema será o cuidado com o médico como medida essencial para a qualidade da assistência à saúde sob a perspectiva da prevenção quinquenária.

Cuidar de quem cuida é reconhecer o médico como pessoa, como ser humano passível de desgastes e de exaustão física e mental. Numa perspectiva de ações em nível ampliado e integral, serão abordadas estratégias de cuidado e esferas-alvo de atuações.

Todos os participantes são membros da Câmara Técnica de Medicina de Família e Comunidade do CRM-MG:
• Ruth Borges Dias: Cuidando do médico a partir da atenção integral – Ferramentas
• Artur Mendes: Cuidando do médico – Defesa Profissional
• Daniel Knupp – Cuidando do médico – Um olhar a partir de modelos de gestão
• Fabiana Prado – Moderadora

É o CRM-MG cuidando de quem cuida.

O evento acontece na segunda-feira, 4 de outubro, 19h, pelo canal do CRM-MG no YouTube.

Prevenção Quinquenária

Resumo: Visualização de Prevenção quinquenária: prevenir o dano para o paciente, actuando no médico
(rpmgf.pt) – José Agostinho Santos

Quatro níveis de prevenção descritos na literatura: primária, secundária, terciária e quaternária são importantes para as decisões clínicas sobre o paciente e sobre a relação médico-paciente. No entanto, essas ações partem do princípio garantido de que o médico é alicerce estável desde que seja possuidor da melhor evidência científica e/ou desde que seja praticante dos princípios éticos que deverão reger o seu exercício profissional. Contudo, a relação médico-paciente e o paciente são mutáveis. Essa condição pode levar a diferentes graus de alterações no bem-estar do médico, levando a um estado de plena exaustão física e mental, desgaste do médico, provocando o burnout.

Além disso, os modelos de gestão primam pelo uso excessivo, sobretudo da atividade médica: número crescente de pacientes, encurtamento do tempo de consulta, sobrecarga de horas extraordinárias – justificando necessidade de
maior acessibilidade dos pacientes aos serviços de saúde e razoabilidade nos processos de trabalho.

Na realidade, a meta final (qualidade de cuidados prestados com repercussão global no estado de saúde do paciente) não é avaliada.O risco do burnout é entendido como de foro pessoal exclusivo do médico. E fica a sensação de que pouco se valoriza a prevenção do seu burnout como parte da prevenção de problemas de saúde para os pacientes. Mas, na verdade, a prevenção do burnout delineia-se num fluxo particular: prevenir o dano para o paciente, atuando no médico. Esta atuação constitui uma prevenção a um quinto nível – prevenção quinquenária. Interessam aqui as
questões como o erro médico. As medidas em prevenção quinquenária poderão conduzir a um incremento da motivação dos médicos, maximizando raciocínio clínico correto para diagnósticos precoces, melhor comunicação
entre os profissionais da saúde e atitudes médicas mais assertivas e efetivas, levando a lucros econômicos maiores.

Diferença entre prevenção quaternária e quinquenária: A quaternária protege o paciente de dano agindo sobre as condutas médicas resultantes de convicções clínicas sem benefícios comprovados, mas que são tidas como boas práticas. A quinquenária atua exclusivamente no campo biopsicossocial do médico, evitando práticas incorretas que possam ocorrer involuntariamente: práticas incorretas que não sejam resultantes de desatualização científica ou do não cumprimento dos princípios éticos.

Cuidados do médico é cuidar do cuidador do paciente, do familiar responsável, de sua rede de apoio
Elas desenrolam-se em quatro esferas:

  1. estratégias que têm, como objetivo final, criar alterações ou manutenções favoráveis dos aspectos intrínsecos e
    biopsicossociais do médico, enquanto pessoa (existe um componente afetivo no raciocínio médico);
  2. Paciente/Comunidade: estratégias que visam gerar mudanças na comunidade onde o médico pratica o exercício profissional, de maneira a criar uma maior fluidez da relação médico-paciente;
  3. Local de trabalho: estratégias que pretendem criar modificações a nível do local de trabalho que favoreçam a maximização do potencial profissional (recursos humanos, equipamento necessário no gabinete, adequabilidade dos sistemas informáticos de suporte à prática clínica, proximidade de outras especialidades médicas
    para referenciação e/ou discussão quanto à decisão clínica, protocolos de atuação clínica);
  4. Administração/Governo: estratégias que vão ao encontro da satisfação do médico enquanto empregado de uma entidade que o contrata (nomeadamente, o fornecimento de redes de suporte às suas atividades).

As duas últimas esferas constituem, simultaneamente, campos de desenvolvimento de estratégias de governância clínica, definida como o processo através do qual “as organizações prestadoras de cuidados de saúde são responsáveis pela melhoria contínua da Qualidade dos seus serviços e pela garantia de elevados padrões de cuidados, criando um ambiente que estimule a excelência dos cuidados clínicos.”

A questão que eleva é: estarão estas organizações a desenvolver estratégias que estimulem a excelência dos cuidados prestados? O conceito da prevenção quinquenária é assim proposto, salientando o potencial para investigação existente nesta área. Tal como qualquer das outras categorias preventivas, a evicção do dano para o paciente constitui o objetivo tão final quão primordial.